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A LIBERDADE DOS MUTÁVEIS

Updated: Apr 6, 2021


Hoje e só por hoje vou escrever na língua de Camões, talvez porque faça sentido variar, mudar e alternar entre compassos, entre o feminino e o masculino entre a liberdade e a segurança, entre o castor e o pollux, entre todos os polos da nossa mutabilidade, o que é preciso perceber é que existe conexão entre tudo, as partes formam uma unidade e as diferenças existem na essência, projetam-se nos egos.


O mais importante é perceber que não existe forte nem fraco, bom ou mau, mas fluxo, seja espiral, seja em reverso, seja estático. Porque existe fluxo mesmo naquele que apenas absorve, porque pode deixar de absorver, de interiorizar e nesse momento parte em busca de um novo sentido.


Há cerca de quinze anos atrás, a descoberta do meu ascendente foi traumática, porque ser Ermita, era estranho, demasiado estranho e um castigo, para alguém que se considerava uma rocha, ainda que expansivo.


Ser ascendente de virgo para um sol em touro é estranho, mas não tão chocante como perceber há cerca de dois anos que o Vénus em Gémeos, pode ser ainda mais problemático, a descoberta de Mercúrio na minha vida pareceu-me assustador, em vez de uma dádiva, que deveria agradecer.

A tarefa mais importante que temos nas nossas vidas é conhecermo-nos e aceitarmo-nos com os nossos passados, e as nossas características. Já me tinha dado conta das minhas máscaras, das minhas partes, das minhas personas e sabia que elas tinham-se formando a partir dos meus eventos mais traumáticos, apenas não tinha percebido que grande parte das suas características vinham das conexões dos meus planetas pessoais.



O meu mapa astral é uma festa, e saber que tenho virgem, touro e câncer, no ascendente, sol e lua respectivamente, fazia-me pensar que era muito sólido, cheio de valores, uma rocha, com uma intuição acima da média para detectar os sentimentos escondidos dos outros. Essa visão sólida e sentimental, que na verdade sou, não apaga a minha capacidade para conduzir o meu carro, ser dedicado até à exaustão, para não dizer teimoso e obstinado.


Mas isto nunca explicou porque preciso de conhecimentos novos de forma permanente, porque precisei sempre de ter uma boa relação com a minha família, porque preciso de socializar e estar com os outros.


Porque também me preocupo demais com o ambiente circundante, e porque é para mim essencial comunicar, falar das coisas que acontecem, de tudo o que se passa ao redor e dentro de mim, sentir-me em rede e fazer parte do cardume humano.


Esse lado mais egocêntrico, e variável, atribui sempre ao meu lado conciliador e sociável, diria que excessivamente feminino, sempre em busca de conciliação, mas que tal como o signo solar vai acumulando até partir e depois mudar a velocidade da luz, o mercúrio mais profundo do ascendente, que na sua fase mais degradada se torna sarcástico e passivo agressivo, mas sempre diplomata.

Mas depois havia uma parte de mim que explodia e dizia tudo e mais alguma coisa, e seguia em frente, conheci ali o meu Vénus em gémeos, que mete os pés pelas mãos e me torna infantil, numa ânsia de liberdade perdida no tempo, o meu lado criança.


O mercúrio em carneiro, junta-se ao ascendente influenciando-o de forma clara, o que me torna tudo, menos parado, e dá-me juntamente com a sobriedade do Marte em Leão, força e determinação para afirmar a minha liberdade, nessa tríade que sempre ignorara, reside o meu yang, que equilibra a outra tríade, o meu yin.


E aqui começa o paradoxo, porque apesar de me vestir de ação e comunicação rápida, investindo por vezes mais com ego que com essência, existe uma direção cardinal, feita de fogo e água, mutável e contraditória, mas que não desiste dos seus intentos, numa explosão de vontade criadora.


Sempre preferindo a terceira via, nunca parado muito tempo no mesmo sítio, à procura de realidades distantes, procurando outras culturas e outros desafios, porque estou em constante guerra com as minhas partes.


O mercúrio trouxe “salero” a minha vida, fez de mim o jogador de xadrez, o homem que medita através das cartas que lança, sensível ao mundo embora o esconda e isso fez-me feminino, aos poucos fui esquecendo a minha liberdade, a necessidade dela, o que atraiu energias igualmente mutáveis.


Mas liberdade ou domínio do livre, nada tem que ver com compassos e alternâncias de estilos, tem tudo que ver com dever, com dedicação, com entrega e isso é difícil para quem oscila entre Castores e Pollux.

Porque todos os mutáveis, o sentem, seja nos sentimentos como o peixes, seja na ação como o sagitário, seja no pensamento como o gémeos ou no absorver como o virgem, no entanto a passagem está lá entre o fazer e o deixar de fazer, perdendo o interesse, seja o sentir e o deixar de sentir, passando ao amor seguinte, seja o absorver ou o deixar de aceitar, abrindo o coração ou fechando-o, seja como o meu Vénus em gémeos, idealizando para depois descartar, num impulso narcisista.


Só quando percebemos como somos podemos mudar, porque mudar é sempre possível, mesmo que pedindo ajuda aos meus dois outros terços, a fixidez do touro e do leão, e a direcção do câncer e do carneiro, essa força que equilibra os meus mutáveis.


O Mercúrio não é o meu calcanhar de Aquiles, mas a minha maior força, ele permite que perceba sempre os muitos pontos de vista antes de julgar alguém, trava a minha teimosia, permite a minha suavidade, mas mais importante e isso era o que não sabia, é a raiz da minha liberdade, desde que saiba transformar-me.


Os signos mutáveis são transformação, pessoal, interna e depois social, e se o ascendente atrai-se pela mutação, e o vénus está em gémeos, é verdade que companheiras intelectualmente estimulantes, com amor pela família, que detestam grosserias e que precisam de sentir liberdade e entrega, para se tornarem livres e que de vez em quando acompanham a movimentação do ar, da água, do fogo ou da terra, são compatíveis e valorizadas com a sua presença na minha vida.


Mas para me dar ao mundo, ao outro, tenho que estar presente e nem sempre é fácil, porque eu mesmo tenho tendência a oscilar entre polos, e nesse momento a cabeça fica a mil e é difícil sair da mente, do ar, do que absorvo, da terra, mas depois analiso e tomo novo rumo, sem dinâmica não há vida, nem fluxo, nem liberdade.

Entre o ir e o vir, está a fé, a fé que tudo ficará bem, e depois vem a intuição, a certeza racional de quem pensou milhares de vezes e depois o vento, porque como a liberdade também ele corre em mim, e libertam-se as lágrimas e os risos e transformo-me em vida novamente.

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