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A MORTE DO EGO E A RESSOCIALIZAÇÃO



Vivemos numa sociedade baseada no brilho, no impacto, na comparação, na competição permanente, no descarte seletivo das pessoas que não interessam como se fossem lixo, dispensáveis, que como se não fossemos únicos especiais e uma centelha divina. Séculos de doutrinamento cristão e entalhamento da cultura da superiorização dos valores morais judaico-cristãos e greco-romanos, parecem não terem surtido os efeitos queridos na sociedade hodierna, o efeito da valorização do oposto, da conduta moral e ética, seja lá o que isso for, o que indica é a dissolução de costumes e a crise de valores profunda em que nos encontrávamos há dois séculos, que é despoletado pelo marasmo da permanência no medo e na culpa.


Ou seja, na prática da vida, na realidade dos nossos dias, o tempo corroeu a primazia da Bíblia e dos seus valores estóicos, tendo-lhe oposto e imposto os valores comodistas e utilitaristas da dita sociedade de consumo, estes impuseram-se assim por oposição devido à culpa e ao pecado, como efeito reflexo, estas valores comodistas que são cultivados como o motor do crescimento humano criaram uma sociedade tão bem descrita no livro Admirável Mundo Novo, onde todos tomam a soma e consomem de forma permanente aquilo que consideram a alegria permanente que é afinal a dependência, a adição, o vício e a doença mental, o maior flagelo dos nossos dias. Esse paradigma mudou, com a crise pandémica e a guerra na Ucrânia, a europa une-se em torno dos seus valores e lida com o profundo desequilíbrio que o mundo atravessa.


A capacidade de pensar precisa de ser blindada, para mudar a frequência vibracional, o medo e o sofrimento têm que ser percebidos e aceites, os nossos erros assumidos e perdoados, primeiro em nós e depois nos outros e apenas nesse momento o comportamento muda, a mentira dá lugar a verdade, porque o controle e a vida não nos pertencem, são da energia superior e apenas nesse momento, curados e protegidos por nós mesmos, finalmente livres, podemos aceitar o mundo. Nesse momento esvaziamos o nosso corpo e a mente da dor, do que foi, do passado, da dependência e apenas aceitamos o que tiver que entrar por bem, conseguido perceber que só podemos cuidar depois de nos deixarmos cuidar por quem nos quer cuidar, porque existem boas pessoas no mundo, porque existe fé, porque o processo de transformação é lento e doloroso mas resulta na mudança e isto é superação e ressocialização, mas implica esforço e tempo, não dá para comprar no supermercado ver se funciona e deitar fora.


O que não é explicado é que a educação é um processo complexo, não vigiar e punir, mas ressocializar, porque condenar não altera a situação, ter medo não muda o que tem que ser feito, a única forma de aprender é através do erro e da falha, da vulnerabilidade e saber lidar com isso, mas é um processo que leva tempo, aceitar para mudar e sentir-se bem com cada aprendizado novo. Ao mesmo tempo a natureza renova-se e transforma-se para nos dar novos desafios, novas aprendizagens, na fé e na oportunidade de mudança de todos os paradigmas, no trabalho, para o equilibro de todas as áreas da vida, todas igualmente dignas porque igualdade é respeito pela diferença. Para uma borboleta nasça a lagarta tem que morrer, mas o processo é de transformação, alguns insistem na pressa, querem velocidade e insistem em destruir o casulo por fora.


Mas é um processo que tem que ser respeitado, os fanáticos, radicais e ignorantes matam as lagartas na pressa de as atropelar, porque acham que sabem de fora o que tem que ser feito a partir de dentro, não respeitam o espaço do outro, porque querem ter o controlo do processo, para terem o poder e se sentirem poderosos, e mesmo arrogarem-se em detentores dos sucessos alheios, porque querem reconhecimento e poder sobre o outro, e nesse processo assenhorarem da superação alheia minimizado, numa lógica de que os homens devem ser medidos e enquadrados. Não existe homem que detenha poder se não tiver poder sobre si mesmo, se não pensar pela própria cabeça e não souber ser ajudado por aqueles que o querem ajudar e servir de verdade, que o querem ajudar, e escolher os seus amigos é sua tarefa a partir do seu amor próprio, esse é também o primeiro passo para matar o ego.


E para isso é preciso critério, mas é preciso respeitar o tempo, a mudança e as ações dos outros no seu tempo, Cristo foi anos carpinteiro até ser ungido e nesse momento aceitou a sua missão, mas mesmo que não tivesse aceite aquela missão teria outra qualquer, sempre amou em vez de julgar, porque amar também implica julgamento, mas não é ficar preso a convenções dos outros, do que a sociedade diz, do tweet, da rede social e diz que disse, ficar nesses locais vibracionais é perder tempo e abandonar-se a si mesma à sua essência, é não ter mentalidade de adepto de clube de futebol no clube de futebol, porque a pessoa pertence a si, não se pode reduzir ao gostar ou não gostar, ficar preso na ideia que uma pessoa é como um objeto, que se usa para um fim e que é um meio para atingir objetivos pessoais. Amar é acima de tudo respeitar o tempo e processo do outro, o processo de morte do ego, que tem de ser feito, para surgir a superação, ser amigo é amar, mas se ser amigo de alguém tem que se matar o próprio ego, porque no ego, estamos na Sombra, carta XVI, presos nos vícios e nas convenções, incapazes de lidar positivamente com a fraqueza.


Todos somos falhos e todos cometemos erros, porque ninguém é perfeito, e só aprendemos verdadeiramente errando, mesmo observando os erros dos outros enquanto não os cometermos não erramos não aprendemos, porque é um processo, uma experiência interna que tem que ser vivida.


O processo leva tempo porque é necessário, o arrependimento, a aceitação da condição, para se perdoar primeiro a si, depois ao outro e pedir sincera desculpa, prova do arrependimento e finalmente mudar o comportamento e perceber que se tratam de feridas da alma que sempre existem e existiram mesmo muito antes da pessoa ter nascido, o processo de mudança de uma cadeia de memórias e traumas é sempre dura e difícil de assimilar, passa por um processo continuo de amor próprio e aceitação que por vezes apenas fazemos mal a nós mesmos, com aquilo que fazemos aos outros, provocamos a dor e pecado para nos sentirmos isolados como se essa cripta nos livrasse da vergonha, do pecado e do medo, fugindo a vida, abandonando-nos e morrendo em vez de viver aceitando e mudando para melhor, saindo do casulo, passando de lagarta a borboleta.


Quando esse é apenas o início, de um processo, que passa pela admissão do erro, aceitação perante si mesmo da falha e vulnerabilidade, que determina a reação, a superação, a morte e a mudança, todos somos falhos, vulneráveis e cheios de erros, não seres perfeitos. Tudo isto fez com que o trabalho e acima de tudo a culpa fosse o motor do desenvolvimento humano.


O modelo UTILITARISTA BENTAMITA, tornou-nos produtos e objetos e a sociedade trata os seus elementos de forma cartesiana e funcional, não que isso não seja necessário numa primeira fase, mas já iremos. O princípio da SELF MADE MAN, a busca pela felicidade a todo o custo e doutrina da revelação, entalhadas no pensamento protestante, fez como a avaliação seja essencial, a culpa, o tabu, a devoção baseada no medo, o medo de não corresponder a Deus, como se ele fosse apenas um pai severo, que castiga e rotula, quando quem se castiga é o agente.


A bitola socialmente imposta de olhar o outro como bom ou mau, num fanatismo cego, ou num sentido de utilidade para fins em que isso é secundário face a total desconsideração pelo ser humano são a marca da nossa sociedade de consumo hoje confrontada com a guerra na Ucrânia que nos traz modelos ainda mais arcaicos de governação, e esses mesmos ainda assim alicerçados nas Igrejas e no seu poder do pecado e no Modelo Orwelliano do Grande Irmão, prisão de Capricórnio, ou Casa do Parlamento.


No entanto a bíblia onde dizem que isto se funda não tem essa mensagem, e se pensarmos melhor qualquer forma de espiritualidade, baseia-se na partilha, no amor, na ajuda e na caridade, no cristianismo, nos evangelhos o que encontramos é o desprendimento dos bens materiais, não interessa se dos nossos se dos outros, a questão é perceber uma missão maior de superação, sendo que para servir e amar, temos que nos amar e servir primeiro, pois só podemos ajudar quando ajudamos os outros, Cristo via o pecado como uma condição, porque o perdão de Deus é total, só fica a faltar perdoar-nos a nos mesmos e regressamos a casa, e a nossa casa é com o nosso pai, o que nos deu vida e o divino, nesse processo de reconciliação redescobrimos a nossa essência, e sabemos que somos, a partir dai, sabemos dizer não e blindar a nossa mente, e matamos definitivamente o ego que é viver em função dos outros ou do que outros pensam de nós, devemos cuidar do nosso carater e não da nossa reputação, não fazer aos outros o que não gostávamos que nos fizessem a nós e perdoar as nossas ofensas como perdoamos a quem nos ofende, e isto na prática é viver e deixar viver, aceitado que somos falhos.


Os Tribunais e os Juízes dos nossos tempos não chegam aqui é por isso que o nosso Judicial e Político precisa de ser reformado, precisa de comportar a ressocialização e a superação pelos processos de mediação e serviço nas 12 áreas de vida, nas 12 Oficinas, através de uma postura de colaboração e não de descarte, numa sociedade de integração para vencer a guerra e não numa sociedade de exclusão e banimento a partir de um modelo cartesiano e não complexo, não se trata de vigiar, punir e reduzir população, como se fossemos objetos para adequar os recursos, mas mobilizar todos para consertar a terra e os recursos, lutar pela natureza, pelos animais, pelo nosso planeta, cuidado primeiro de nós, depois do planeta e finalmente quando estivermos fortes uns dos outros, praticando verdadeira solidariedade e não exploração, sendo verdadeiros e honestos, deixando a nosso centelha divina e essência vir ao de cima, matando o ego, sendo essencial para o processo mudar o foco de fora para dentro, saber blindar a mentalidade, alimentando a mente e o espirito do que vale a pena, e deixando a vibração mudar, é apenas aceitar o amor do pai, e deixar a solidão, a fragilidade pela superação e mudança de hábitos e posturas efetivas, focados em nós e não nos outros ou no que outros dizem de nós porque isso vale muito pouco ao lado do que fazermos a partir do ser.


Hoje vive-se como se solução fosse culpar ou atribuir rótulos, a carta XVI do Tarot o A Prisão ou Sombra, fala-nos disso mesmo, de um momento em que temos que perceber que os grilhões que no aprisionam, os nossos limites e vícios que não podemos superar porque estão dentro de nós mesmos tem que ser confrontados sim, mas essa confrontação social não pode ser feita com o intuito de marcar, rotular e classificar como se fossemos dispensáveis.


Devemos sempre recordar que “as mãos que curam são mais importantes que as mãos que rezão”, penso que devemos ser educados para servir, mas o que isso significa na prática e quando não aceitamos os nossos limites e as nossas fragilidades não podemos crescer, não digo que assim não seja essencial ou importante perceber a Casa 10, ou a Oficina do Parlamento, é acerca da imagem publica do reconhecimento, da política, da capacidade manipular e usar os outros.


Recordo a este propósito a maneira como Frank Underwood em House of Cards, cujo único objetivo é usar pessoas para seu próprio interesse pessoal age, pois age a partir dos outros e para os outros, porque essa é a energia de Capricórnio, a imagem social, quando a sua grande ferida estava ligada à sua não aceitação do seu pai, que ele pensava que nunca tivera para admirar, assim para ele o mundo é composto de “Almofadinhas” cheios de vantagens e privilégios que ele nunca teve, enquanto ele não é considerado, porque se considera abandonado pelo seu pai biológico e por Deus.


Na verdade, ele a partir dessa ferida para a manipular toda a gente a seu belo prazer, sem ética, sem princípios, até que a responsabilidade dos cargos o obriga finalmente a curar a sua ferida. Todos somos falhos e ele não é exceção, ele precisa de se perdoar, perdoar a mulher que se torna como ele porque o ama e vê nele um aliado, com quem partilha objetivos e companheirismo, até que a competição entre ambos atinge níveis insuportáveis e finalmente mudam o que tinham que mudar nas suas vidas fazendo a dita superação e a história muda finalmente de rumo.


Matar o ego, o nosso trauma mais profundo, que no caso de Underwood era o pai, foi para ele uma jornada e um processo pejado de erros, e sim ele devia ser punido, e safou-se sempre, mas será que se safou mesmo?


A principal vítima da sua ideia de auto perfeição, o ego que a sociedade lhe alimentou, fez com que ele se esquecesse dele mesmo. Existe naquela como em todas as jornadas pessoais, uma evolução e uma transformação, o relevante não é quem erra, como erra ou de que forma se erra. O importante é respeitar o erro do outro, e perceber que todos nós erramos, que julgar pertence a Deus e não aos homens, que podemos ter uma missão e sim lutar por ela e nela trabalharmos para nos superarmos mesmo que seja como ele, ser presidente dos EUA, mas temos que ser humildes para lembrar que também nós somos humanos, como era dito nas entradas triunfais dos generais em Roma quando ganhavam as suas batalhas, “recorda que também tu és humano”, porque existe sempre o fim e a morte, e ser recordado deve ser pelo que se fez, porque o que interessa a quem precisa de verdade, e discernir e criar balanço e equilíbrio é também ele um processo de erros, mas o homem apenas cresce quando se entrega e aceita e se deixa ser ajudado por Deus, é o que se faz bem, e é feito a partir do serviço ao outro, cuidando dos outros.



Matar o ego é ser verdadeiramente egoísta, amar-se e nutrir-se para só depois servir corretamente o outro, para deixar a essência revelar-se, quando Frank Underwood pensou o AmericanWorks, independente de quem ele era como pessoa, ele procurou fazer algo pelos outros, a sua visão estava certa, mas a sua ganância por poder destruiu o projeto, ou seja, o que ele fazia bem era guiado pelo serviço, ao outro e resultava do aprendizado que ele ia fazendo com os erros que também cometia e que usava para continuar, mas a necessidade de controle e ansia por poder levaram-no à quase morte por falência renal, ali ele viu a capacidade da mulher que sempre tinha estado ao lado dele e existe uma mudança interna de morte gradual do ego.


Ele reconhece nela a necessidade de mudar e não só nela mas na sua relação com o pai físico e com deus, e reconcilia-se com a necessidade de ser pai, de apoiar como fizera afinal com o senador Russo ou mesmo com o seu fiel e honesto assessor Doug, a pratica consistente do serviço no Parlamento muda-o, obriga-o a ser para os outros e pelos outros e a agenda não pode mais ser pessoal porque o serviço exige entrega e isso obriga-o a trabalhar a partir da essência, de servir e aceitar o que Deus lhe impõe, mas ele era fraco ao deixar o ego dominar a sua essência e foi isso que ele teve de trabalhar com aqueles que afinal de contas amava e percebia em todo o seu sofrimento.


O julgamento pertence a Deus, aos homens apenas é reservada a divina inspiração para se perceberem imperfeitos, aceitarem e perdoarem, crescerem juntos, a admiração mútua é o que cria a amizade e os laços sociais, mas a consciência é sempre de cada um. Matar o ego é deixar de apontar o dedo e aprender e ensinar de verdade, porque todos somos mestres, companheiros e aprendizes ao mesmo tempo, perdoar o outro, para que ele se perdoe a si mesmo e entenda que no final, quando estamos em pecado e culpa estamos apenas a não acreditar em nós e no nosso processo de superação, pessoas feridas ferem é tão simples quanto isto.


Todos erramos e reconhecer um erro e pedir desculpa não é uma marca que fica, ou se fica a pessoa que marca ela mesma está em processo de sofrimento e não se ama, há que libertar quem está ferido e dar-lhe o seu tempo, porque é um processo, são tudo processos porque somos a dada altura crianças perdidas que pensamos que o nosso pai é cruel quando na verdade eramos nós que o fazíamos a nós mesmos, por falta de amor próprio e incapacidade de aceitar os nossos próprios defeitos que são caminho e não condenação eterna, saibamos sair da cadeia e viver a liberdade, aceitando as nossas limitações, mas superando-as diariamente para não pararmos de crescer, porque a vida é uma dádiva e a forma de agradecer é aceitando-a e vivendo em nós mesmos, na essência, na centelha divina abandonando o ego, através da transformação e ressocialização.

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