Comer, Orar e Amar
O Romance invoca a viagem do herói, um tema recorrente cada vez mais nos dias de hoje com uma mistura subtil com livro de auto ajuda, não deixa de ser uma forma interessante de abordar a necessidade cada vez maior de sair do registo de uma sociedade dominada pela normalização de padrões e algo paradoxalmente com a interiorização das imagens do politicamente correto e do tempo certo para tudo na vida.
Certamente que Carl Gustav Jung agradece a muleta, mas deveras interessante é a forma como esta heroína se torna uma mulher forte à medida que confronta os seus medos e assume o caminho que tem que fazer, depois de iniciada nessa viagem pelo guru do Bali, que de algum modo previra todas as transformações porque iria passar. Pois o fazer o caminho tem aqui uma dualidade entre o trágico e o cómico que torna a viagem leve e profunda ao mesmo tempo.
Comer, orar e amar, obedece assim a um registo também ele de focagem, desfocagem e re focagem, que mais não é que passar da concentração no exterior, onde se mergulha essencialmente no prazer, e esse é o primeiro passo do caminho, que aqui se mistura com uma viagem de férias, por três culturas que corresponde no pensamento da autora a esses três passos, essenciais, Roma, India e Bali, são assim vistas a luz desta viagem do herói.
A protagonista começa em Roma, onde comer é assim a focagem nos problemas, até despertar para a consciência do vazio que não pode ser preenchido e que se encontra nela, como no outro, assim as suas consideradas falhas como esposa e companheira, dão lugar a satisfação de estar viva, ser feliz e disfrutar da vida, na fase que é de expansão externa no ato de comer, que é também um ato de receber e dar amor.
Deste primeiro passo que enfatiza a situação universal de carência e ferida, ela parte para o auto conhecimento e descobre que afinal orar, ou rezar é afinal reconhecer e agradecer as dádivas que a vida concede e que estão sempre ao nosso redor, mesmo na vida mais complicada e difícil e através da partilha mesmo que silenciosa, aprende que existem situações que mesmo diferentes não deixam de ser iguais, a partir da cultura da India aprende a estar presente no serviço e na dádiva e assim transforma o seu sentido de vida, esta desfocagem permite-lhe o passo final.
Em Bali e depois de trabalhar o seu sentido exterior e interior de paz, finalmente chega ao propósito que passa por transcrever as mensagens do guru, que vaticinara o seu caminho e é nesse momento que concentrado no seu trabalho esbarra no amor e é aqui que terá de decidir se pretende abrir o seu coração, agora que tendo a sua vida completamente equilibrada não precisa de preencher qualquer vazio, mas terá que ter coragem para abdicar dessa paz em prol do desconhecido, ou talvez não necessite de abdicar desta paz que encontrou para ser feliz, desde que tenha fé e acredite que tudo é possível quando o trabalho já se encontra feito, para finalmente poder re focar.
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