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MOONFLEET



Este é um romance do final do século XIX, pleno período vitoriano, que procura conciliar o sentido do imaginário romântico com uma crítica arguta do utilitarismo vigente na sociedade daquele período histórico. Tendo sido transformado por Fritz Lang, mestre do cinema impressionista do segundo quartel do século XX, durante os anos da Republica de Weimar, na Alemanha do pré segunda guerra mundial.


O filme pertence ao género swashbuckle, ou seja filme de capa e espada, mas os seus elementos pictóricos são complexos uma vez que se preocupa essencialmente com a expressão figurativa. Aqui se vê a assinatura do Mestre Fritz Lang, que coloca neste filme em contraste o "doubleganger", conceito claramente romântico em contraste com a crítica a sociedade vitoriana, no que tinha de mais decadente, a sua hipocrisia.


O jovem John Trenchard Mahun, neto do senhor das terras de Moonfleet, regressa a sua terra natal enviado pela sua mãe para ser cuidado por aquele que deverá ser o seu protector Elzevir Block, que afinal de contas tinha sido amante da sua mãe, ficando no ar, a eventual paternidade do jovem que faz a viagem em busca de um amigo. Esta é também uma história de redenção, uma vez que o jovem John consegue conquistar aos poucos a verdadeira amizade de Block.



Block que surge inicialmente como o vilão que secretamente gere um negócio paralelo de contrabando ao mesmo tempo que se apossa do selo da família Mahun "Y", para fazer o seu comercio ilegal com as colónias britânicas e assim fazer fama e fortuna, afirmando-se na sociedade como um pilar de honestidade e prestigio, depressa se torna alguém perseguido pela sua própria mágoa, por estar a roubar de um órfão, o seu futuro e a herança.


O filme e o livro abordam o tema da redenção, tema bíblico, que surge associado a toda a trama de investigação do tesouro dos Mahun, porque o caminho para descobrir o tesouro estava inscrito nos capítulos e versículos de uma anotação que vem por eventual força do acaso ao conhecimento do jovem John Trenchard, e que o mesmo partilha com Block, bem como uma carta escrita por Grace, filha do verdadeiro dono da mansão e do selo "Y", o cavaleiro e pirata John Mahun, avô de Trenchard.


Perante o conhecimento de toda a trama, fica evidente que a história centra-se em Block, que sempre amara Grace e que se via agora divido entre a ambição dos seus negócios ou aceitar o neto do homem que mais o tinha perseguido, mas que bem poderia ser o seu filho. Perante o dilema Block acaba por escolher trair os seus companheiros de infortúnio, os contrabandistas para entregar todo aquele império ao seu real proprietário Trenchard.



É uma história que lida com o misticismo, o terror e com elementos de aventura, porque a narrativa é construída a volta de uma caça ao tesouro, onde o verdadeiro diamante não o do Rei Carlos I, mas antes a descoberta da bondade num coração destroçado pelo desejo repudiado e por um amor que apenas se consuma na morte, na redenção e transformação do egoísmo e da ganancia em algo maior, numa dádiva ao outro.


O vilão que se torna o verdadeiro amigo da criança, pode também ser visto como o regresso a si mesmo, aquele que ele fora em tempos, como se toda a história fosse uma luta interna entre a criança Trenchard e o adulto Block, em que o segundo abdica de si mesmo em prol do amigo, porque apesar de negar em palavras o afecto, no fundo Block era o mais leal amigo que Trenchard poderia ter encontrado porque sacrifica o seu conforto e a sua vida em prol de o deixar viver, porque afinal de contas a criança não ingénua mas correcta ao dizer de Block, "o seu amigo".


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