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THE NEW WORLD

Updated: Apr 6, 2021




"What we Knew in the forest", é talvez a frase que mais nos marca, quando recordamos esta película magnifica de Terrence Malick, um génio que nos transporta para um outro tempo, quando os territórios virgens da America do Norte estavam a ser desbravados, a história de uma mulher, que era a terra em si mesma, que se vê despojada pelos elementos.





Existe toda uma mística que envolve este filme, fala da terra selvagem, inicial, rica, pujante que identifico com a energia de Touro, do signo magnifico do estabilizar da primavera, forte, generoso, que se entrega, e quando se entrega é para sempre, teimosamente se entrega como Pocahontas o faz ao seu descobridor, John Smith, explorador dos caminhos do norte.



Pocahontas a filha do Rei, a jovial nativa que se apaixona pela natureza do vento, personificada pelo explorador John Smith. A jovem princesa, deixa-se seduzir pela inconstância masculina, ele para ela, é o sol e ar que a envolvem e despojam, com ele toma parte numa aventura de descoberta, de novos mundos. Ela entregasse totalmente, não olha a si mesma na entrega.


Durante meses contra a vontade do seu próprio pai, entrega-se ao jovem capitão, que procurava desbravar o caminho para as Índias Orientais. A jovem conforme a sua natureza entrega-se e ama-o e teimosamente persiste a seu lado e agradece-lhe tudo o que aprendeu com ele, tudo que ela "conheceu na floresta", que guarda como recordação constante, esperando dele correspondência a princípio, respeitando depois a sua distância, aceitando-a como castigo.





O que ela sentiu era amor universal, por ele mas por todo o mundo que ele representava, e casou-se profundamente na sua alma, sentiu-o e amou-o de forma profunda, entregando-se, mudando-se, adaptando-se a ele, enfrentando para isso a sua família, num desejo de fusão com o infinito através daquele homem que era o seu companheiro.





Com o tempo desenvolve com ela uma dependência emocional, que ela não conhecia, porque não o percebia, mas o afastamento, fazia perguntar se havia algo de mal com ela mesma, desesperava e procurava-o permanentemente porque apenas conhecia a alegria, a descoberta que ele lhe proporcionava e recordava apenas essas verdades, que fazia suas, aprofundando a sua necessidade de se preencher, de se encontrar, de procurar nele o seu significado, que não reconhecia.





Havia um mundo de distância entre os dois, ele era vento, ar que oscilava, pensamento, um mundo que ela não conseguia sentir, porque precisava sentir e ele estava sempre longe demais, preso aos seus raciocínios, a sua capacidade intelectual, a sua sagacidade, versatilidade, a sua comunicação, sempre tão acertada, sempre tão decidida.





Depois veio o abandono, o desaparecimento e ela teve que subsistir. Depois de durante meses e anos ter alimentado a colonia inglesa no território da Virginia, o jovem capitão parte para o norte em busca da passagem para as Índias, como ele aliás sempre ameaçara fazer, porque tinha que fazer as suas conquistas, encontrar o seu sucesso, e nesse momento todo o sonho, a ilusão do amor demonstrou o vazio imenso que tinha crescido dentro dela.





Então ela sofreu, e a terra tornou-se seca, e recolheu os frutos, e a sua natureza tornou-se mais próxima a dele, como o verão faz com as colheitas, dedicou-se aos seus deveres, e aquela entrega natural tornou-se cautela e reserva, e dedicou-se ao pai e a tribo e a todos os seus deveres, e chorou e lamentou longamente a sua sorte, em silencio, atravessou o deserto.





Naquele tempo viveu com os ingleses e aprendeu os seus costumes, a sua língua e perdeu o seu impulso inicial, a sua vontade autêntica e verdadeira, e conheceu a vergonha e o pecado e todas as coisas que lhe ensinaram e conheceu um homem, John Rolf.





Ele era como a água, comerciante de tabaco, fazia um pouco de tudo, mas era sobretudo agricultor, enamorou-se dela, mas ela estava fechada sobre si mesma, devota das suas obrigações, presa as promessas do vento, esquecida dos seus costumes, cada vez mais seca, e procurando encontrar de novo o seu lugar no mundo.





A consciência da distância, e do fim de tudo, fez com que ela fosse morrendo para os sentimentos, o amor que sempre a tinha movido, mas foi também deixando ir, desapegando-se sabendo que tinha amado, e deixou de amar para que sentisse apenas o amor dos outros, passou a deixar-se amar, porque a sua capacidade de entrega tinha esgotado.




As chuvas vieram e alagaram as planícies, porque o equilíbrio estava perturbado, a terra tinha sido pilhada e vilipendiada e ela já não conseguia confiar, foi-se fechado cada vez mais e ela percebia que John Rolf olhava para ela, com devoção e amor.


Os seus sentimentos não mudavam, porque a terra nunca muda, eles tinham morrido definhado por John Smith, mas havia um senso de dever que a impedia de se entregar de novo, desenvolveu-se uma amizade, porque apenas isso o tempo permitia pelo seu amigo John Rolf e dessa amizade nasceu o amor dele por ela.



Ela deixou-se amar por aquela estranha e nova forma correcta e delicada, não violenta, mas ela não queria magoar ninguém, apenas esperava, sempre esperava, sempre lenta e sem reação, porque os seus sentimentos outrora vibrantes e belos eram agora completamente contidos e assim veio o inverno e o renascimento da terra no Solestício.


Ela tinha passado de Touro, para Virgem, da pujante e segura primavera para o fim do verão, no signo de Virgo para finalmente chegar ao renascimento após a morte que sofrera, a transformação, mas ela tinha-se transformado, tinha secado tudo o que fora, tudo o que era agora era para si mesma, para a sua força interior, para a única pessoa que tinha sempre ignorado, ela mesma.



Na companhia de John Rolf viaja para a Inglaterra onde defende os direitos do seu povo explorado pelos exploradores, nessa ocasião o amigo pede-lhe para se casar com ele e ela acede por mero dever e não por paixão, porque ela tinha morto dentro dela a paixão, o desejo e a sexualidade que experimentara na primavera da sua vida com John Smith.


E nesse momento ele volta, e ela pergunta-lhe se ele encontrou as Índias, e ele diz que sim, mas ela tinha morrido na espera por ele, quando ele tenta voltar para ela, anuncia-lhe que tinha um compromisso com John Rolf. A conversa é ouvida por John Rolf que se apercebe que não existe mais amor nela, mas apenas dever e amor ao seu povo, a sua essência, a princesa era agora rainha.



A dor e a arte de suportar a dor, a cristalização dos sentimentos que como água se tornam gelo e depois rocha firme, por ação do fogo e do ar transformam a paisagem, no diálogo final o cenário é uma Inglaterra vitoriana onde os jardins "manicurados" da Inglaterra do século XVI contrastam com a paisagem inicial das planícies férteis e virgens de uma Virginia no território Americano Indígena do Continente Norte Americano.


A reconstituição de Terrence Malick, a banda sonora, a profundidade do dialogo interior retrata a história e mito fundador da nação que nasceu sob o signo de câncer, Estados Unidos da America, que hoje como todo o universo atravessa a transição da idade de Peixes para a idade de Aquário, do Caos para a Ordem, retrata o fim do ciclo, o que nós humanidade fizemos com a Terra, o que fizemos com a nossa essência, como causticamos a vida, a espontaneidade, como viramos as costas para a mãe terra, que somos nós mesmos, como a racionalidade mata o sentimento, como interrompemos o ciclo da fusão universal entre terra e água, com a brutalidade da violência do fogo e do ar, como afinal tentamos destruir a troca e dualidade entre o yin e o yang, o activo e o receptivo, como fomos uma vez mais expulsos do Paraíso.





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