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Writer's picturePedro Leonardo

YENNEFER



Sobre o Witcher pouca há a dizer, apenas que é mais uma série adaptada dos videojogos para para as produções da Netflix, o personagem Yennefer de Vengerberg inspirado em mais uma heroína emancipada faz a delicias dos fãs do género, no entanto mais subtil é a masculinização do género feminino e o seu inverso, que no entanto nos terá que fazer refletir profundamente sobre a natureza da alma humana.


O lado masculino e feminino de cada um é talvez a temática que valha a pena explorar, ou luta permanente entre a paixão pelo poder, que tende a ser considerada uma característica masculina, por esse ser o papel tradicionalmente atribuído ao homem e o desenvolvimento dos valores intrínsecos quase sempre entregue as mulheres, o que também nem sempre é verdade basta perceber a quantidade de artistas que existiram ao longo da história.



A verdade é que como todas as coisas existe o verso e o reverso em si mesmo, porque tudo é dualidade e a masculinidade ou a feminilidade estão mais ou menos vincadas de acordo com o temperamento e nada tem que ver com o sexo, mesmo se pensarmos na compulsão sexual encontramos a mesma em todos os seres humanos, que é bi sexual por muito que queiramos negar, o que é totalmente diferente da decisão racional da orientação sexual que depois possamos querer adotar.


Isto significa que quer sejamos homens ou mulheres somos todos pertencentes ao mesmo conceito de raça humana e em todos ressoam as feridas primordiais do abandono, da injustiça, da humilhação, da rejeição e da traição e isto forma todas as nossas visões acerca do mundo, daquilo que somos, a vontade de controlar os outros porque fomos traídos não é assim um exclusivo do sexo masculino, o que significa que embora culturalmente menos frequente existem mulheres que abraçam o poder como máscara e necessidade de sobrevivência tal como os homens o fazem.



Trata-se sim de uma questão de oportunidade e de inclinação natural e na maioria das vezes educação e vicissitudes do percurso adotado, Yennefer é adorada pelos homens sobretudo porque ela vive dentre de cada homem e aqui falo da humanidade, o que ela representa é a resistência contra a limitação, porque sendo humilhada, ela renasce, sendo injustiçada e humilhada ao ser vendida por quatro soldos, ela ganha a força para se erguer acima das suas limitações, dos seus medos e fá-lo pela afirmação da sua individualidade.


Ela é a heroína do tempo presente, é o herói igual a Ulisses mas na sua versão feminina, ainda assim ela representa o intelecto e o triunfo da racionalidade, simbolizados no vento, no elemento do ar, e a sua capacidade de se transformar vem do fogo imenso que alimenta a sua ação, ela tal como o vento molda o fogo a seu belo prazer, ela representa a mulher dual e ao mesmo tempo a intuição mais profunda, associa assim o elemento água e fogo do escorpião que sente na maior profundidade tudo o que acontece, percebendo as traições antes de elas acontecerem porque tem o dom da visão.



Yennefer vive no coração e na alma dos homens intuitivos, e que se pautam pela transformação e mutação, pela morte como novo caminho isto independentemente do que foram ou do que deveriam ser para os outros, a capacidade libertadora de transformar o mundo e se transformar, mas no paradoxo do dever, a capacidade de se dar em prol dos outros e sacrificar o amor pelo dever, porque acima de tudo o seu amor tem que ser por toda a humanidade, pelo o que é justo e não pelo que é amoroso.


O arcano que a rege é e será sempre os namorados, mas cruzado com outro arcano maior, a morte, porque é na escolha e na sua possibilidade no mundo físico que transformação interior se manifesta, acima de tudo ela apela á necessidade de sermos elevados como a honra e verdadeiros com o mundo, comunicando com a alma e seguido a racionalidade sobre as emoções, mesmo que o preço a pagar seja muito alto e não nos permita ter vida pessoal, tal como Jon Snow de Game of Thrones é preciso elevar o dever acima do amor.


Apenas quando o preço a pagar é a própria vida percebemos o eixo da mesma, entre o material e a sua destruição, porque apenas tendo podemos perder e apenas perdendo encontramos a nossa essência e quebramos as máscaras que nos separam do nosso valor intrínseco, apenas nesse momento percebemos que ter poder é abdicar dele é viver para além da morte, na realização de uma missão acima de nós em serviço ao outro e só no serviço abnegado a verdadeira fé, a entrega sem limites onde descobrimos que somos um com ele, sem máscara, sem identidade, em comunhão.


Yennefer vive assim dentro de cada um de nós, como Ulisses, como Frodo, como Jon Snow, porque eles transformam o poder em serviço, destroem o que de perverso existe na ideia de poder, para em última análise o definirem como a sua própria destruição, ou transformação construtiva e a morte converte-se em nova vida, em ressureição como NEO em Matrix, o novo homem que transforma o poder em serviço e abdica de todo o controle em prol de uma ideia superior, encontrando-se o messias com o seu sacrifício último, a morte.


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